A história da gaivota que aprendeu a voar
O telhado do edifício onde moro é colonizado por uma quantidade infinita de gaivotas, especialmente na primavera e verão quando elas fazem mais ninhos.
Há umas semanas apareceu aqui uma gaivota bebé em muita agonia. Deve ter caído do ninho ou ter sido atirada pelos irmãos. Não sabia voar e por isso ficou no pátio. Os vizinhos levaram-lhe uma manta para ela fazer ninho e eu levei-lhe alguma comida que ela não soube comer. Pensei que iria morrer, abandonada, mas a mãe não a deixou. Todos os dias a mãe vinha alimentá-la e ver se estava tudo bem. Às vezes até ficavam em "conversa de gaivota", barulho p'ra frente, barulho p'ra trás, um olho na cria cá de baixo o outro nas crias lá de cima.
Ao fim de uma semana, estava a chegar a casa e vi a bichinha a tentar um voo de meia dúzia de metros, as patas quase não saíam do chão. Mas a verdade é que no dia seguinte ela já não estava cá. Em poucos dias cresceu, aprendeu a voar e fez-se à vida, desafiando a seleção natural forçada que tinha sofrido uns dias antes.
Hoje, estava a chegar a casa quando vi mãe e filha de volta no meu pátio, tranquilas, sem os gritinhos histéricos da semana anterior. A gaivota veio visitar o lugar onde se fez adulta.