As crónicas da Visão e o poder de melhorar o dia.
Tirou os óculos com cuidado e poisou-os na mesa de cabeceira. Em seguida deitou-se de lado, virada para a parede, com as pernas encolhidas e abraçada ao seu urso preferido, o “Roncas”.
A mãe puxou o lençol e fez uma dobra por cima da colcha. Alisou-a bem e aconchegou a roupa contra o corpo da filha. Colocou a sua cara encostada à da criança e murmurou:
- Dorme com Deus minha querida!
Apagou a luz e fechou a porta.
Maria deu uma volta na cama, virou-se para a mesa de cabeceira, estendeu o braço e tacteou o tampo. Pegou nos óculos e colocou-os na cara. Virou-se para o outro lado e agarrou-se ao Roncas. Adormeceu em poucos minutos.
Quase à uma da manhã o pai chegou. Tirou o casaco e foi à cozinha. Em cima da mesa estava um prato com a comida que ele deveria aquecer no micro-ondas. Depois de comer foi ao quarto da filha.
- Outra vez de óculos!- pensou.
Retirou-lhos cuidadosamente e beijou-a muitas vezes na face e nos cabelos. Aconchegou a roupa da cama contra o seu corpinho e saiu.
De manhã, quando a mãe entrou no quarto para a acordar, o primeiro gesto de Maria foi levar a mão aos olhos.
- Ele veio dar-me um beijo! – pensou. Colocou os óculos e levantou-se de um pulo para começar um novo dia.
Excerto daqui.