Feminismo, essa palavra cara que (às vezes) se vende ao desbarato
O nosso amigo google diz que o feminismo é um movimento de luta pelos direitos das mulheres com o objetivo da igualdade de género.
No seu verdadeiro significado, feminismo não é o contrário de machismo, não é um movimento de mulheres com pêlo na venta contra os homens, nem tão pouco a luta pelo matriarcado. Os feministas não querem que as mulheres sejam mais do que os homens, nem ganhem mais do que os homens, nem mandem mais do que os homens. O feminismo termina quando a igualdade de género for alcançada.
Vejo, por isso, com pena que a palavra se destroque ao desbarato por "dá ca aquela palha" e que seja utilizada em situações que visam sobrepor os direitos de algumas mulheres aos de todas as outras pessoas, não obstante o seu género. É com tristeza que vejo o feminismo associado a revolta, revolução, luta aberta contra os homens. E, acima de tudo, quando se usa o feminismo para criticar outras coisas vitais, como o humor (lembram-se desta fotografia?), ou para criar polémicas, ou para aparecer nas revistas.
Apesar de nos darmos ao luxo de por vezes vendermos o feminismo ao desbarato em Portugal, porque, felizmente, já temos alguns direitos, relembro aqui algumas coisas:
As mulheres e os homens são biológica e psicologicamente diferentes.
Por isso, é normal que haja trabalhos que sejam mais apelativos (ou fáceis) para a maioria dos homens do que para a maioria das mulheres (e vice-versa). Assumir isto não é machismo, é realismo. No entanto, eu escrevi maioria e aqui, sim, entra o feminismo. O feminismo defende a igualdade de direitos. Portanto, se houver mulheres que desejem fazer algo que à partida é mais fácil para um homem, deverão ter toda a possibilidade de o fazer. Talvez tenham que se esforçar mais para superar determinadas barreiras físicas, mas não deverão sofrer preconceito. E o contrário também se aplica.
Vejam dois exemplos:
A mulher é, em média, menos forte e musculada do que um homem. A maioria dos soldadores subaquáticos são homens porque a maioria das mulheres não teria capacidade ou até mesmo interesse em fazê-lo. Mas se eu treino diariamente e tenho capacidade e amor pela profissão espero ser avaliada de igual forma quando me candidato ao trabalho e não descartada automaticamente pela única e exclusiva razão de ser mulher, logo menos apta.
E o mesmo se aplica aos homens. Quantas educadores de infância conhecem? Muito poucos. Será porque não conseguem? Não. É porque a maioria dos homens não demonstra interesse nessa profissão e porque caso o demonstre poderá sofrer algum preconceito. O feminismo luta para que a última parte não aconteça.
Igualdade é justiça.
O feminismo ganha a batalha quando houver justiça nos processos de recrutamento. Seja para homens, seja para mulher.
A igualdade ainda está longe.
No papel, as mulheres têm completa igualdade de direitos em Portugal. Na realidade, isso ainda não é assim. Claro que os direitos básicos, aqueles que a lei protege, estão lá, mas e o resto? Feminismo luta por igualdade no geral. Isso inclui tratamento, oportunidades, salários, e expectativas. Ainda há um preconceito, mesmo que seja inconsciente, contra as mulheres. Quantas vezes nos perguntam se planeamos ter filhos a curto prazo nas entrevistas de emprego? No trabalho, quantas vezes nos olham de lado quando dizemos que temos de sair a horas porque precisamos de ir buscar as crianças à escola? Quantas mulheres com períodos menstruais pesados são admoestadas porque têm de ir à casa-de-banho com mais frequência?
E o contrário?
Como reage o cidadão normal quando vê uma família moderna em que o homem fica em casa a tomar conta das crianças enquanto a mulher providencia para a família? Mas se for a mulher está tudo bem.
Ainda há muito a fazer, principalmente noutros lados do mundo, mas também por cá. Vejam os exemplos dados nesta crónica da jornalista Paula Cosme Pinto para o Expresso e na notícia de hoje do JN.